Campeonatos Amadores
Estreio-me neste jornal, a convite do jornalista e amigo Augusto Pimenta, sobre uma matéria que me é particularmente sensível, os campeonatos concelhios amadores de futebol e futsal, sendo eu deixo desde já a seguinte ressalva: escrevo exclusivamente como espetador rejeitando qualquer outra interpretação.
Não abordarei diretamente o futebol 11, dado considerar que o facto de conseguirmos efetuar um paralelismo com o futsal e a sua realidade não é coincidência, mas sim a mesma problemática.
Analisando pela prespectiva organizativa de uma qualquer modalidade desportiva, amadora ou profissional, o leitor poderá facilmente chegar ao seguinte esquema organizativo: na base do processo temos os atletas, estes necessitam de treinadores/orientadores, que por sua vez dependem de dirigentes que administram o clube/associação que engloba todo este grupo. É óbvio que são necessários vários processos idênticos para que exista a possibilidade de competição, mas este ponto não deve ser descurado, pois nem sempre o obvio tende a ser clarificado pelas mentes mais eruditas. Os clubes necessitam de recintos desportivos para a prática e desenvolvimento das modalidades, e estas para terem o perfil competitivo necessitam de organização.
Regressando agora ao nosso concelho e à nossa realidade, o que encontramos é que na base (atletas) não existe interesse neste processo “amador”, pelo eu todos os anos se perdem atletas, gostaria de afirmar que para outras organizações, mas infelizmente a grande maioria segue por outros caminhos, menos saudáveis. O desporto jovem é também um meio de prevenir problemas sociais e de saúde nas próximas décadas, assim se organize com esta responsabilidade presente.
Na camada seguinte temos os treinadores, repare que escrevi orientadores anteriormente, não só porque o treinador é um orientador táctico, mas porque nas camadas jovens é um orientador social e um educador!, pois é exatamente aqui que está outro problema, são muito poucos os treinadores qualificados para este processo, assim como são cada vez menos as pessoas disponíveis para a tarefa, pelo que prevalece a quantidade em prol da qualidade [é necessário formar].
Os dirigentes são a camada seguinte, sendo que com toda a problemática anterior, tem a missão de serem o ponderador de equilíbrio do clube, com a obrigação e missão de mediar os assuntos e o de liderar treinador e atletas.
Por fim, neste conjunto temos os clubes, que são um espelho de todos os níveis anteriores, e que por isso mesmo refletem diretamente nos adeptos e nos seus comportamentos públicos, daí que não seja de estranhar que em vários jogos públicos vejamos os adeptos a libertar a tensão acumulada por vidas pessoais e profissionais refletivas do estado socioeconómico que por estes tempos subsiste em prevalecer.
Depois, no topo destes processos vem a organização e as estruturas de jogo. É precisamente aqui que tudo se reflete, ou seja a falta de uma organização responsável (note o leitor que não estou a tecer considerações depreciativas aos organizadores), fruto de anos de impreparação dos níveis anteriores, acumularam décadas de um “amadorismo” que não qualificou devidamente os atuais dirigentes. Chegamos a uma fase em que temos pessoas com espirito de sacrifício (muito mesmo) e com valores éticos e morais, mas que lhes falta a capacidade técnica para processos e procedimentos.
Os campeonatos amadores precisam urgentemente que as entidades públicas avancem com uma organização federativa popular, de modo a começar a segurar toda a organização e formação de dirigentes, treinadores, árbitros, etc, de modo que o desporto amador possa servir a sociedade com seriedade intelectual e que de um modo sustentável sejam criadas e adotadas políticas desportivas para futuras gerações esclarecidas e saudáveis.
No que toca a estruturas, estas necessitam de ser revistas e devidamente planeadas, quer no aspeto ocupacional, quer na sua dispersão geográfica, para não falar nos próprios projetos de edificação, isto porque são vários os casos em que as condições meteorológicas mais adversas (que são cada vez mais acentuadas) não permitem a prática desportiva em segurança.
Interessante para esta análise, é ouvir os intervenientes diretos, pelo que questionado um treinador qualificado sobre o Futsal jovem, obtive a seguinte resposta:
“Na minha opinião o estado actual do campeonato precisa de reorganização a nível de recursos humanos na formação de árbitros, num campeonato do concelho vizinho por onde tive uma curta passagem, o próprio concelho de disciplina e que nomeava os árbitros sendo eles isentos a qualquer associação, pessoas dedicadas só aquilo. Mesmo os membros da organização deviam ser mais informativos fazer eventos que cativa-se a modalidade, palestras com treinadores, formações ao nível da modalidade, serem mais presente no dia-a-dia das associações.
O número de equipas e outra realidade sendo que nosso concelho de Santo Tirso formado por 24 freguesias e tendo só meia dúzia de equipa a disputar o campeonato. Penso que a formação de jovens deve partir das associações mas principalmente das entidades competentes para o incentivo. Por exemplo todas as freguesias deviam de ter pelo menos uma equipa de formação, porque existe vários atletas com nível de qualidade muito boa para ingressar em equipas com outras ambições e ate outros níveis, mas como não existe muita projeção do nosso campeonato não são vistos nem lembrados. Quem e que vai deslocar para ir ver um campeonato que disputado por 9 equipas ou noutros escalões ate menos. Também tenho noção que nível económico não dos mais favoráveis, mas com uma maior projeção de atletas e mesmo a nível de associações pode surgir patrocinadores e ate outros investimentos a nível de desporto para o concelho. O futsal e modalidade que esta está em crescimento e penso na minha opinião num curto médio prazo que possa ser modalidade que mais adeptos virão a ter.”
Em suma, toca em todos os aspetos de uma prespectiva que todos os intervenientes têm, mas que poucos admitem, ou sentem a coragem de assumir, talvez por uma dificuldade em autocritica, própria de uma formação social e cultural mais avançada.
Espero que este ano possamos ter a grande mudança do paradigma desportivo no nosso concelho, cumpridas que sejam as metas indicadas pelos responsáveis políticos. Como cidadão atento analisei cuidadosamente o programa eleitoral do atual executivo, pelo que concordo plenamente com o projeto de política desportiva que o atual executivo camarário pretende levar acabo, nomeadamente a criação de uma entidade autónoma para a gestão do futebol e futsal, sendo que talvez acrescentaria a necessidade de criar um fórum de debate desportivo aberto a todos os intervenientes, que livre de qualquer interesse que não fosse o interesse do desenvolvimento desportivo sustentado, pudesse debater o futuro.
O principal objetivo do desporto amador deverá ser sempre a formação de jovens esclarecidos e saudáveis, a parte competitiva deverá ser sempre secundária, para que assim venhamos a ter gerações positivas que apreciam Santo Tirso e as suas tradições.